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Vizinhança, de Jhúlia Salles



Jhúlia Sales, 15 anos, estudante, apaixonada por literatura.

Minha rua é bem pequena e se tem algo de importante para destacar nela é que qualquer movimentação torna-se imediatamente de conhecimento geral. E foi assim que um calmo dia de sábado virou euforia com a chegada de um novo vizinho que se mudou para a casa de n° 5.


O caminhão de mudança parou e por uma mera coincidência, acreditem, todos os moradores tinham alguma coisa para fazer em suas respectivas portas.


E como de costume, os moradores começaram a traçar os seus julgamentos sobre o novato pelas características de seus móveis:


“Mulher, o que é que uma pessoa com um sofá e uma geladeira tão bonita vem fazer num bairro desse?”


“Mulher, sei não. Muito estranho.”


E lá pelas tantas, muitos se reuniram na porta de dona Zefinha sob pretexto para tomar um açaí que ela vendia. Foi quando entrou pela rua um grande carro vermelho e parou em frente à casa de n° 5. De dentro dele saiu uma jovem mulher de cabelos de fogo que ao avistar a vizinhança reunida deu um rápido aceno com a mão e entrou casa adentro.


A porta mal fechou e os burburinhos já recomeçaram:


“Você viu que antipática!”


“Muito carinha de mimada”


Poucos minutos depois apareceu pela rua um homem alto, de cabelos castanhos, vestindo roupas simples e na sua companhia trazia um enorme cachorro preto encoleirado. Parou frente à calçada.


“Boa tarde, me disseram que aqui vende um gostoso açaí. Está quanto? “


“Cinco reais, meu filho. Vai querer um?”


O homem só afirmou com a cabeça. E enquanto dona Zefinha preparava o açaí daquele cliente, o assunto da nova vizinha voltou à tona:


“Achei muito enjoada”


“Você viu que cor de cabelo de tanto mau gosto”


“Achei os móveis muito cafona”


“Ah, amanhã vou já fazer a minha visita”


“E virou fofoqueira, foi?”


“Fofoqueira, eu? Claro que não, só cuido do bem da nossa vizinhança.”


A conversa continuou animada sobre a nova moradora até que dona Zefinha entregou o açaí. O homem que já tinha tirado o sorriso do rosto, recebeu o sorvete, pagou e mal respondeu ao agradecimento. Dirigiu-se à casa de nº 05. Entrou. Bateu a porta!


Os vizinhos se entreolharam e a voz de um deles confirmou o que todos estavam pensando:


“É outro mal-educado!”

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1 Comment


Maria Júlia Borges
Maria Júlia Borges
Nov 19, 2021

Amei a crônica! Morri de ri! Jhulia, por favor, compartilhe mais textos! Adorei sua escrita.

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