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Petrolândia, a Atlântida do Sertão

A Paula Rubens, uma petrolandense que me inspira cotidianamente a ouvir memórias.



“As águas já lhe batiam a cintura. O velho Tião se recusava a entrar na última canoa.”

- Regina Borges



Nas profundezas dessas águas franciscanas moram mais do que a sua fauna, a sua flora, e figuras lendárias, habitam também nelas as ruínas que contam as histórias de um passado que teimosamente insiste em não ser esquecido. Até parece com a misteriosa Atlântida de Platão, que entre as diversas teorias e hipóteses acerca da sua existência se mantém viva no imaginário popular: Que aconteceu com tão rica cidade e com um povo tão sábio e próspero? Teria sido ela tragada por Poseidon ou teriam sido as ambições dos homens de conquistar o mundo que a destruíram?


Desse modo, se nas águas do mar existe uma Atlântida perdida que ainda na contemporaneidade desperta uma série de dúvidas e curiosidades, nessas doces águas vive submersa Petrolândia, Terra de Pedro, nome recebido como homenagem ao Imperador D. Pedro II.


Nascida às margens do Velho Chico como um simples bebedouro de animais, recebeu em seu primeiro batismo o nome de Jatobá alusivo à uma frondosa e bela árvore nativa da caatinga, e ainda no século XIX fazendo-se presente nos planos do Império ganhou investimentos, dentre eles: projeto estrutural da vila, uma Estação Ferroviária, um cais onde atracava e partia o transporte de navegação com mercadorias e viajantes, interligando o baixo ao alto São Francisco.


Assim com o advento de toda essa infraestrutura e posteriormente com a grande circulação de riquezas fez a vila crescer, elevando-a à categoria de cidade em 1909. Décadas mais tarde como homenagem a formosa cachoeira que trazia encantos à

cidade, além das promessas de progresso através da geração de energia denominou-se Itaparica (1935), e definitivamente em 1943 tornou-se Petrolândia.


De ruas largas, arborizada, bonitos prédios, casas, clubes, igrejas, Petrolândia viveu décadas de desenvolvimento e uma pulsante vida econômica, social e cultural. Entretanto, a nova política governamental trouxe muitas mudanças e com a desativação da linha férrea em 1964 findam-se também muitos sonhos de outrora.


Mas ainda estaria marcado em seu destino, meados dos anos de 1970, um novo ideal de progresso que tinha como objetivo ampliar o complexo elétrico do Vale do São Francisco através da força hídrica. E a população, embora um grupo não acreditasse no que diziam, a maioria compreendia que os impactos desse novo empreendimento provocariam o fim de seu território, e por isso logo entrou num intenso processo de luta pela garantia de direitos, chegando até 1988, quando o último morador pegou a última canoa e despediu-se de Petrolândia, que mergulhava silenciosa para sempre nas águas da barragem de Itaparica.


E assim dorme em sono profundo a Velha Petrolândia, a Atlântida do Sertão num mar de água salgada de lágrimas de seus filhos e filhas. Dela sobrou-lhe a igreja Coração de Jesus, que resiste bravamente ao tempo e com uma pequena parte à vista faz-se lembrar que a Velha Terra de Pedro pode ter sido engolida pela água, mas que as suas memórias não estão perdidas.




Regina Borges

22/08/2021




80 visualizações1 comentário

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1 Kommentar


Unknown member
06. Sept. 2021

Conheci e morei na velha Petrolândia, pois vim transferido em 01/11/1976 de Paulo Afonso.

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