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Francisco, de Maria Júlia Borges


Francisco


Maria Júlia Borges, letróloga, mãe e assistente literária.

Andava mais ávida do que um dia poderia imaginar. E por mais que já tivesse visto de (quase) tudo, não era suficiente. Conheci os céus mais claros, senti as ventanias mais suaves, frequentei lugares inimagináveis, traguei vários lábios, inalei muitos perfumes. Queria mais, precisava de um pouco mais de aventura e perigo para agitar essa vida chata, poder fechar os olhos e sentir o gosto dos devaneios mais insanos.

Seria hora de acabar com essa amargura? Aproximei-me de um abismo ali próximo. Não tinha muito o que falar, porque esse era um momento em que as palavras se bagunçam dentro da cabeça. O único som que ouvia era o do meu próprio coração. Dizem que quando se olha demais para o abismo, ele te olha de volta. E foi neste momento particular que eu o vi. Francisco estava lá, e ele não só me viu como acenou em seguida. E de repente não tinha a morte me chamando, mas uma nova afeição estava sendo refletida. A dor cessou, a raiva, os ressentimentos também. Restaram as coisas boas, as boas lembranças. Francisco me ofereceu uma gota do desconhecido, e era exatamente isso que estava procurando. E logo uma fagulha de curiosidade me veio, perguntei a Francisco o que poderia fazer para alcançá-lo. Ele, com um sorriso profundo, respondeu: Entregue-se.


Perdi a conta do tempo que ficamos nos encarando. Senti-me tempestade e calmaria. Não fazia a menor ideia do estava acontecendo, mas permaneci neste limbo. Fascinei-me pelos seus encantos, deixei-me flutuar. Embriaguei-me na paixão e mergulhei em seu sorriso azul. E desaguei nas curvas perfeitas e frias de seu corpo, e deitada junto a ti me desintegrei.



Jatobá,

05/05/2015

142 visualizações3 comentários

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3 Comments


Unknown member
Oct 15, 2021

Suicídio é um tema muito forte... Ótimas analogias!

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Maria Júlia Borges
Maria Júlia Borges
Oct 15, 2021

Quando escrevi esse texto em 2015, nem imaginaria que teria meu próprio Francisco (filho) 5 anos depois. Os dois, tanto o Francisco do texto quanto o meu Francisco, são uma homenagem ao Velho Chico, rio em que sou ligada fortemente por banhar Jatobá.

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Unknown member
Oct 15, 2021

PERFEITO! 😍

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