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Diário de expedição Riacho do Icó – PARTE I



Da Serra Grande em dias chuvosos descem inúmeros fios de água que correm ladeira abaixo formando vários riachos. Entre eles encontramos o Riacho do Icó, que no passado também deu seu nome para batizar um antigo povoado e até hoje é lembrado pelos seus antigos moradores. E como os demais riachos, o Icó também viaja por comunidades rurais e desagua no Velho Chico.


Nessa expedição que hoje começamos temos como objetivo conhecer o Riacho do Icó, observando desde onde se forma e as condições ambientais ao longo de seu leito.

Nosso guia foi Seu Antônio, um senhor de 76 anos, morador do povoado Logradouro, filho do Riacho Salgado, também de raízes da Quixaba e do Bem Querer de Baixo. Profundo conhecedor da terra, das plantas, além de exímio artesão.


Sr. Antônio, Maria Isabel e jumento Branquinho

Montada no jumento de nome Branquinho também nos acompanhou Maria Isabel, de 7 anos, neta de Seu Antônio, que muita esperta e falante se encanta com as histórias do avô e vibra com a beleza da caatinga.


Começamos a caminhada por volta das 8h pelo lado leste do povoado Logradouro, o clima estava muito agradável, o sol parcialmente nublado iluminava a paisagem a nossa frente onde mandacarus, xiquexiques e facheiros davam as boas-vindas. No leito e às margens do riacho, com muita tristeza observamos uma grande quantidade de lixo doméstico e de construção civil jogados ao longo de um percurso de quase 200 metros.


Seguimos acompanhando o Icó, a estrada começa a ficar mais estreita e inicia uma subida bastante íngreme, com muitas pedras. Ainda que às vezes se distancie, continuamos avistando-o e também observamos que já vai afinando.


Com o aumento da altitude, percebemos a mudança do clima e ao redor constatamos diferenças na vegetação. O nosso guia com fôlego de criança vai puxando o jumento e nos contando histórias, também mostrando a riqueza da diversidade que já se apresenta: mulungu, pata de vaca, umbuzeiro, caraibeira, angico, aroeira, ainda nos dando aulas de fitoterapia. Há também muitas bromélias, palmeiras, pedras enormes com muito musgos, florzinhas de várias cores, e em vários pontos a caatinga se apresenta alta e fechada. O Icó já ficou para trás, agora só vimos várias das marcas dos fios que descem para formá-lo lá mais abaixo.


Depois de uma subida de mais de uma 1 hora, avistamos a Mata Fria, uma das roças que ficam num dos morros próximos à Serra Grande, e onde foi a nossa parada. Tomamos café debaixo de um cajueiro, e travamos uma boa conversa sobre literatura e natureza. A vista é linda lá do alto!


Enquanto Branquinho descansava da dificultosa subida e seu Antônio cuidava da sua roça de feijão, andu, milho, abóbora, macaxeira, fomos conhecer as redondezas e plantar as mudas que trouxemos num clima de muita alegria em poder retribuir à natureza um pouco do que ela tão ricamente nos oferece.


Retornamos por volta do meio dia, fomos recolhendo o lixo encontrado, basicamente garrafas e sacolas plásticas, e sentindo aquele cheiro de terra molhada, ouvindo o cantar dos pássaros, enchendo os nossos olhos de beleza e conversando sobre os antigos moradores do Icó e os tantos deslocamentos que têm sido feitos por este povo ao longo dos séculos.


E concluímos a nossa expedição com o sentimento da necessidade de conservação desse patrimônio natural através de projetos de replantios, especialmente de espécies extintas ou quase extintas como é caso do jatobá, de reeducação da população em relação à sua biodiversidade e especialmente projetos à proteção dos riachos que alimentam a terra e o nosso amado rio.


Como diz a ativista Jhúlia Sales, de 15 anos, “Está em contato com a natureza é apaixonante - ar tão puro e clima tão agradável. Porém o sentimento também é de pesar pois estão aos poucos destruindo a nossa bela natureza. Em nossa expedição pudemos ver a quantidade de lixo em alguns espaços e a presença de várias árvores queimadas. A natureza nos fornece tantas coisas boas e em troca só quer o nosso cuidado, porque é nossa grande casa planetária e merece respeito e carinho! Essa poluição na caatinga precisa parar!”


A ativista Duda, 17: “O contato com a natureza nos faz mudar pensamentos, entender coisas novas, é um aprendizado! Aproveitei para plantar e voltar a minha infância, brinquei como criança...”


O ativista Luiz Henrique, 14, completa: “O Projeto Recaatingar me permitiu uma experiência maravilhosa, que outros adolescentes como eu deveriam abraçar, porque a natureza é o único livro que oferece um conteúdo valioso em todas as suas folhas”.

Portanto, em nome da presente e das futuras gerações não podemos esquecer que moramos num bioma de beleza única e que cabe a cada um de nós o dever de cuidar!


E continuaremos conhecendo o Riacho do Icó. Até a próxima!


Regina Borges

20/08/2021



*Jhúlia, Duda e Luiz são integrantes do Projeto Recaatingar.




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